Jogador é artilheiro do seu time na atual temporada da K-League
Hoje o FutNet trás para o seu leitor uma super-entrevista exclusiva com o atacante brasileiro João Paulo, que atualmente joga na Daejeon Citizen, da Coréia do Sul, disputando a K-League 2013 (primeira divisão do Sul-Coreano).
João Paulo da Araújo, ou simplesmente ‘João do Gol’, como ficou conhecido no início de sua carreira atuando pelo ABC/RN, tem 25 anos e fez parte de uma geração boa de jogadores formados pelo time potiguar. Com ele, surgiram Rodriguinho (atualmente no América/MG) e Wallyson (atualmente no Bahia, com passagens por Cruzeiro e São Paulo).
Desde 2011 que João joga no futebol coreano. Antes de acertar com o Gwangju FC, ele passou por empréstimo em times como Botafogo/PB e Barras/PI, onde não teve tanto sucesso.
Foi no Alvinegro de Natal que ‘estourou’ para o futebol. Fez parte da brilhante campanha do time na conquista da Série C de 2010, tendo anteriormente vencido o Campeonato Potiguar do mesmo ano, marcando muitos gols e ajudando o com sua qualidade individual.
No Daejeon Citizen, seu atual clube no qual está emprestado pelo Gwangju, já cinco gols e é o décimo oitavo goleador nesta edição de K-League. No entanto, o time vive péssima fase, ocupando apenas a lanterna com 11 pontos ganhos em 22 jogos disputados.
O ainda menino ‘João do Gol’ conversou exclusivamente com o FutNet e falou sobre sua carreira, e como todo atleta humilde, passou por dificuldades no início de sua trajetória no futebol.
Confira!
1) O que foi feito por ti antes de chegar até mesmo nas categorias de base do ABC? Como chegou a ser notado pelo clube, você já praticava o futebol em outro time ou apenas atuava em competições de bairro?
Antes de jogar nas bases do ABC, em 2007, eu tive uma passagem pelo Natal Futebol Clube, do professor Marcos Pintado. E através dele fui fazer um teste no Corinthians/AL e Santa Cruz/PE, mas fui dispensado pelos de lá. Eles alegavam que eu não tinha tamanho para jogar de atacante e isso já havia acontecido comigo em um clube de Natal, no São Gonçalo (o antigo Touro), mas isso não me fez fraquejar na luta de ser jogador profissional. Ainda tive passagem pelo CDF em um Campeonato de Juniores. Depois, o amigo Wendel, que já era das bases do ABC junto com Manoel Moura (treinador das bases do ABC que morava, na época, no mesmo bairro que eu) e me convidaram pra fazer um teste lá. Fui e me deram 20 minutos em um coletivo, onde tive a felicidade de marcar 3 gols e agradar o então treinador Didi Duarte e o já falecido supervisor das categorias de base, Nilson Mario. Eles dois foram pessoas muito importantes para o início da minha carreira. Mas antes de tudo isso que falei, eu dei meus primeiros chutes no Boca Junior do Soledade 2 (bairro de Natal) do amigo Damião, que foi meu primeiro treinador e em outras cidade como São Tomé.
2) Chegou a ver sua família passar por dificuldades financeiras enquanto não se tornava atleta profissional?
Sim, passamos. Eu, minha mãe e minha irmão morávamos juntos com meu pai, e somente ele que trabalhava. Muitas vezes eu vendia picolé nos campos de futebol dos bairros, nos finais de semana, para ter o dinheiro das passagens da semana e poder ir aos treinos. Mas teve uma pessoa que infelizmente não está mais entre nós, que foi meu avô materno, o Sr. Manoel, que levarei para sempre em meu coração. Ele me ajudou muito juntamente com meus pais. Lembro que um dia antes de ir no ABC para fazer o teste, meu pai já tinha arrumado um emprego pra mim no trabalho dele, então ele até brincou comigo dizendo "esse é seu ultimo tiro" (risos), pois eu já estava com 18 anos. Mas graças a Deus deu tudo certo.
3) E as suas breves passagens pelo Botafogo/PB e Barras/PI. Acredita que tenham sido proveitosas? Serviram de algo para você crescer como atleta e pessoa?
Apesar de terem sido muito rápidas, foram importantes demais. Isso me mostrou como era o mundo do futebol realmente, eu nunca tinha saído de casa para morar em outro lugar, por isso foi importante.
4) O duro rebaixamento do ABC em 2009 na Série B motivou de alguma forma o João Paulo para os anos seguintes? Você chegou a pensar que “agora é a minha hora” de deixar de ser uma promessa no futebol?
Infelizmente nós caímos naquele ano, mas digo que foi bom pra mim, pois foi onde realmente me deram oportunidade de jogar. Atuei naqueles jogos finais, onde ainda marquei alguns gols (cinco ou seis, não me lembro), e também teve a de Didi Duarte para treinar a equipe naquelas partidas e em um projeto para o ano seguinte no Estadual. Foi onde tive a oportunidade de atuar como titular e realmente disse “essa é a minha chance”, e agarrei com unhas e dentes .
5) O ano de 2010 começou da melhor maneira possível para o ABC e para o João Paulo. O time conquistou o Estadual contra o Coríntians de Caicó e iniciou ali a sua por cima em busca do retorno a Série B. O que aquela competição significou?
Sem dúvidas aquele estadual foi a competição mais importante pra mim, e ficará marcada para sempre em minha memória. Eu fui artilheiro e pude ajudar o ABC a ser campeão. Mas não só o Estadual. O ano de 2010 como um todo foi excelente, já que também conquistamos o título de Campeão Brasileiro.
6) Depois do Estadual, veio a tão esperada Série C. Classificação suada no Grupo B, com 12 pontos em 1º colocado, enquanto que o quinto (que também foi o rebaixado) ficou com 10 pontos. Qual considera como o mais difícil daquela primeira fase?
Todos os jogos foram difíceis, mas em Marabá (contra o Águia) foi complicado devido eles jogarem em casa. Lá o jogo foi uma loucura, o Estádio muito pequeno com um calor ‘daqueles’, a torcida em peso. Mas graças a Deus fizemos um com Claudemir e conseguimos sair com a vitória e a boa vantagem para a partida de volta que vencemos de novo por 3 a 1.
7) Depois da conquista da Série C, veio a final da Copa do Nordeste contra o Vitória. O ABC começou vencendo no Frasqueirão, com gol seu, mas acabou sofrendo a virada e ficando com o vice. O que acha que faltou naquele momento?
Aquele jogo ainda não saiu da minha memória. Estavamos indo tão bem no jogo, mas em duas bolas bobas perdemos o título. Creio que a derrota não tirou o brilho do trabalho feito no ano de 2010 pelo clube. Não tínhamos um time, e sim uma família, por isso que tudo (ou quase tudo) deu certo. Nós entrávamos em campo tão bem que as coisas aconteciam naturalmente, foi tudo perfeito.
8) Em 2011, você decidiu deixar o ABC para então atuar na Coreia do Sul pelo Gwangju. Como foi sua chegada ao país? Foi bem recebido?
Foi uma loucura. A primeira dificuldade foi o frio. Você sair de Natal, a Cidade do Sol, e chegar em Seoul e logo de cara pegar uma temperatura de -10, deu vontade de chorar (risos). Mas com o tempo me acostumei, e também a neve é apenas no começo do ano, depois esse sol como está agora volta. E fui bem recebido sim, pra mim foi uma ótima experiência.
9) Apesar de você ter se destacado em algumas partidas com belos gols, isso acabou não sendo suficiente e o Gwangju foi rebaixado. O que acha que faltou ao time naquela temporada?
Acabamos caindo no ano passado, mas nosso time era bom. Tínhamos jogadores da Coreana e Olímpica. Tínhamos uma base boa, mas não conseguimos em nenhum momento embalar na competição. Perdemos e empatamos muito. Pra mim não foi muito bom, pois fui usado em poucos jogos como titular. Não sei ao certo, mas em dois anos por lá no Gwangju, de mais de 70 partidas que o time teve, atuei como titular em apenas 15, no máximo. O treinador só me usava no segundo tempo, ele me tinha como ‘amuleto da sorte’, ele pensava que eu entraria em todos os jogos que o time estava perdendo e resolveria sempre. Mas penso que se ele me colocasse como titular, me dando ritmo de jogo, eu poderia ter ajudado mais. Mesmo sem jogar muito nestes 2 anos lá, saí com 16 gols e 10 assistências, sendo artilheiro do time .
10) Depois do rebaixamento, acabou saindo para o Daejeon, seu time atual. O fato do Gwangju jogar a segunda divisão foi o principal motivo para que o João Paulo optasse por sair?
Na minha cabeça, eu saí para vir jogar aqui no Deajeon a primeira divisão, e poder fazer um bom campeonato esse ano para buscar uma melhor equipe no ano que vem. Esse ainda é meu objetivo, mas também quero ajudar a equipe na disputa para a permanência na elite do futebol coreano.
11) Na atual temporada, o Daejeon é lanterna com 11 pontos e certamente irá disputar o playoff com outras seis equipes para definir quem será rebaixado. Confia na recuperação do seu time?
Sim, claro. Mesmo não estando bem na tabela, nosso time tem evoluído muito nos jogos e sei que as coisas vão começar a se encaixarem. Se Deus quiser, tudo vai dar certo para a nossa equipe.
12) Estando a mais de 2 anos atuando na Coreia, se sente adaptado ao país e seus costumes?
Sim. Isso não é mais problema nem para mim e nem para minha esposa, Marleide. Já nos adaptamos muito bem, tanto com o clima e à cultura, como também à culinária deles. Mas tenho sempre em estoque aqui em casa muito feijão, cuscuz e farinha. Sem isso, não dá para sobreviver aqui, só na base do arroz e da sopa (risos).
13) O que sente mais falta do Brasil?
O que me faz mais falta, sem dúvidas, é a minha família. Estamos muito distantes. Eu sou um cara muito familiar, e por isso não foi nada fácil para mim vir jogar aqui. Tenho saudades de todos, mas sei que hoje posso dar uma boa vida a quem realmente me ajudou no passado, e é isso que me dá forças pra continuar.
14) Com o término da temporada da K-League, já pensa em um retorno ao futebol brasileiro?
Terminando essa temporada, eu vou retornar ao Gwangju FC, pois ainda tenho mais um ano de contrato lá. Não sei se vou sair, o meu futuro à Deus pertence. Sempre oro à Deus para ser feita a vontade dele em minha vida, não a minha vontade. Mas tenho um sonho, que é jogar o Campeonato Brasileiro da Série A. E enquanto esse sonho não for realizado, pretendo continuar por aqui.
15) Durante o tempo em que está na Coreia, já aconteceram sondagens de equipes brasileiras para tentar tirá-lo do futebol asiático?
Que eu saiba, nunca houve clubes brasileiros atrás de mim no período em que estou aqui. Mas, em compensação, recebo muitos contatos de clubes do Japão e da China.
16) O João Paulo pensa em dar preferência ao ABC num futuro próximo para retornar ao Brasil?
Tenho o ABC como meu clube de coração. Antes mesmo de jogar no ABC, eu já torcia por ele. O nosso amor não é de hoje (risos). Com certeza, um dia eu voltarei a vestir à camisa do Mais Querido. Quero ainda dar muitas alegrias à torcida, como foi em 2010.
17) Deixe uma mensagem para os seus admiradores no Brasil.
Agradeço de coração a todos que admiram o meu futebol aí no Brasil. Um grande abraço para todos, que Deus abençoe vocês, sempre!
FONTE: FUTNET
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